Seja Bem Vindo (a)

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quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Dividindo a minha dor

Ao construir uma casa, todos nós sabemos e nem precisa ser engenheiro para ter a noção de que tudo se inicia pelo alicerce. Fortes rajadas de concretos são colocadas alguns metros para dentro do solo e só depois as paredes começam a ser erguidas. Isso tudo eu sei bem, sei até um pouco mais, aprendi acompanhando o meu avô aos sábados em seu local de trabalho. Responsável por fortalecer as estruturas, colunas, acabamentos, literalmente com a mão na massa.
Posso até sentir o cheiro da marmita preparada pela dona Bertina, às quatro e meia da manhã, era uma grande para o seu Liduino e uma pequena para mim, com tudo o que tinha direito, arroz, feijão, “mistura” (forma de se chamar uma carne, lingüiça, ovo no interior de São Paulo) e salada. O dia era longo e o retorno só ao anoitecer e essa era uma das diversões que eu mais amava na minha infância.
Que saudade de brincar no sítio, descalça. De pegar uma colher daquelas que se usa em construções, sabe? Pesada, a minha mão era tão pequena ao ponto de não equilibrá-la com a massa de cimento em cima, mas eu sempre o “ajudava” a erguer as paredes. Saudade de poder voltar para aquela casa de madeira simples, e, ao chegar no portão, sentir o cheiro da comida da “véia”, isso abria qualquer apetite, ainda mais depois de um dia tão cansativo e movimentado.
Pois é, saudade também de adormecer no sofá e ser levada nos braços para a cama. Ah, detalhe, a minha cama era ao lado da cama deles e no meio da noite eu sempre acordava com medo, assim conseguia alcançar o objetivo de dormir entre os dois. (Confesso, era medo mesmo).
Isso é só um pequeno detalhe de uma infância toda. Simples, mas cheia de amor, de carinho, de puxões de orelhas. Que saudade, vó. Que saudade...
Já se passaram muitos anos, muita coisa mudou, a minha vida já tomou tantos rumos diferentes, tantas idas e vindas, mas eu nunca perdi a minha essência, a base oferecida, o alicerce construído.
O que eu faço com esse buraco que ficou depois que ela se foi? Vazio este que jamais será preenchido. Com trinta e tantos anos, posso dizer que me sinto órfã sem poder abraçá-la, sem poder telefonar, nas minhas tantas angústias e pedir a sua oração, como sempre acontecia. E na simplicidade de sua alma, com toda a fé que a moveu sempre, atendia ao meu pedido, rezava por mim e Deus, em sua infinita bondade, nunca deixava de atender aos seus anseios. 
Cinco meses órfã.....  05/09/2010 ... E a vida segue!!! 

3 comentários:

  1. O texto nos emociona com a história da infância e a saudade que ficou no coração de órfã. É preciso continuar firme na caminhada. Que Deus te fortaleça todos os dias de sua vida!

    Abraços, querida!

    @soniasalim

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  2. Minha querida, você me trouxe com suas palavras o cheiro gostoso da comida da minha tia, e o talento gigante do tio, ele é fantastico! quando trabalhava, um pedreiro sem estudos mas que fazia casas lindas e detalhe: sozinho, com um ou outro ajudante.
    Te-lo com vc ainda é uma dádiva, aproveite cada instante! E quanto a querida e animadissima Bertina, tenho certeza que está contando piadas onde ela está!!! Beijo cheio de saudades pra vc!!! E um para o tio!!!!

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  3. Não podia deixar de visitar esse blog né...
    Emocionante seu texto, me fez lembrar até do olhar bondoso dela.

    Mil beijos Joice

    Emanuela

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